Precipício


            Eu não sou egocêntrica. (Que afirmação forte!) Não o sou. Começo (quase) sempre os meus textos com o verbo na primeira pessoa. Não o faço propositadamente, mas é que não tenho outra maneira de os iniciar. Ao princípio as palavras estão perras, precisam de algo que as desengate para elas fluírem. Já dei por mim na maré vácua dos sonhos. A imaginar um próximo texto. Mas não passa daí. (Imaginação) Posso ter 'milhentas' ideias a vaguearem-me como um mendigo na mente, mas nenhuma chega a ser concretizada. Por mais que sinta necessidade de escrever sobre um determinado assunto que me inquieta, quando chega o momento da verdade… nada sai. Fico paralisada à espera que a primeira palavra me surja. Vou ser sincera, de todas as vezes que planeei abordar determinado ponto que me perturba, nunca consolidei tal plano. Hoje, para não sair à regra, foi igual. Pareço o afamado Lobo Antunes. Escrevo aquilo que me vier à cabeça na altura. Tenho uma má articulação de ideias pelos vistos… Não gosto de ser assim. Ou melhor, não pretendo nem penso ser assim. Mas que posso fazer para o contrariar? Quando é que aplico tudo o que aprendi? A fantástica lengalenga de “Introdução, desenvolvimento e conclusão?” Não sei. Ah que reposta mais objectiva e, ao mesmo tempo, subjectiva à mente dos meus leitores. Acho que não são muitos, mas contento-me ao saber que há sempre alguém que foge à regra.
            São 00:38 e estou num precipício. Sim, um precipício real! Daqueles gretados, enormes, tradicionais dos filmes de cowboys. Sinto o cheiro do pó a invadir o meu estimável estômago. A brisa atravessa o meu ser, empurra-me levemente para o final trágico: a queda. Ai queda mortífera de meu ser!... Por incrível que pareça, não tenho medo. Sou fraca em tudo o que existe, mas não sinto o terror no meu coração nem na minha lamentável pessoa. Que contradições! Por um lado, a minha intensa curiosidade quer descobrir o que existe para além dos meus pés que estão assentes nesta terra cor de argila (fazem-me lembraras fachadas dos prédios de Salamanca.). Porém, a resistir a esta curiosidade, encontro o fenómeno que me mantém verdadeiramente viva. Não há muito tempo chamaram-me orgulhosa. Eu aceitei, digeri e confirmei. É verdade… Não me sinto mal com isso, mas sei que é verdade. Este fenómeno dá tonalidade à minha vida, e com esse orgulho que tenho, não me importava com mais nada! Este fenómeno (que não é de todo nenhum númeno) orgulha-me todos os dias. Sou "mãe", sou irmã, sou princesa, sou melhor amiga, sou querida e fofinha, sou chata, já não sou amiga tem uma razão de ser: ele. Por ele, cairia no precipício só para o vigiar “lá em cima”, recuava para trás (ou para a frente) para ao abraçar e viver com ele, ficava estática só para o observar. E agora, caio ou não? Preciso que a brisa me guie na direcção que lhe convier. Preciso de pedir desculpa por não ser melhor. Preciso de pedir desculpa por ter um texto confuso e atribulado que desperta a indignação em qualquer ser vivo. Só não preciso de pedir desculpa pela pessoa que sou. Isso não peço! Desculpem…

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