Desamparo

8:42 - Acordo a chorar.
Com um sopro de angústia ou desilusão todos os meus sentidos se converteram num só ponto: a noite. As voltas na cama, os pensamentos ruins, os barulhos dos meus neurónios crepitando de sobressalto, os tremores de dor, o corpo despojado de qualquer ânimo. Envolvo-me subitamente entre os lençóis, são eles o meu conforto neste momento - o único. Quero voltar a dormir para não pensar. Quero voltar a embarcar na maré do sonho e não do pesadelo real. Quero um querer que se quer sem outro querer possível. Quero! Dorme, adormece, pensa em dormir, fecha os olhos com mais força. Não consigo, quanto mais quero, menos consigo ter. Tento acalmar todo o sangue galopante que bombeia o meu desalentado ventrículo para o resto das minhas veias e artérias. Aquece-me, coração. Aquece-me, por favor. As minhas mãos manuseiam e apertam com mais força os lençóis , eles torneiam-me o corpo de modo a não deixar resquícios de ar impuro. A dor permanece, no entanto, o calor vai fazendo a sua missão: conforta-me aos poucos. Fecho os olhos com mais convicção, sinto todo o meu corpo em união por um bem só: o meu.

12:53 - Acordo desamparada
"Não, não quero, não quero isso, não confio, não quero isso, não quero, não!" grita o meu íntimo, sem dó nem ponta aparente de piedade. Uma mistura rancorosa de medo sobressalta o "eu". O meu corpo frágil treme nervoso, algo o preocupa. Tudo a que estava habituado, não está a ter agora e reclama por isso. Que será? A dor ultrapassa o espectável e atinge  patamares já esquecidos em tempos. "Não me lembrava já o que era isto", deduzo assertivamente. A dor do passado retoma o presente. Serei madura o suficiente para encarar outra vez este tipo de sofrimento? Serei forte o suficiente para contornar de novo todo este mal-estar? Se o sou, preciso de algo que me dê forças. Descubro, sem nenhuma demora, que preciso... de ti.

Comentários

Anónimo disse…
Adoro como escreves. Continua, parabens! Bj

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