A minha batalha I

Que murro bem duro no estômago! A pressão, a rudeza, o inesperado. Um golpe forte e destrutível ataca o silêncio do meu quarto. Consegue fazer mais barulho que a luta entre o vento e a chuva a desputar raivosamente a natureza. Retraio-me, na tentativa de diminuir a dor provocada, mas é impossível emudecer este sôfrego. Por espanto ou poesia, ele voltou para me donimar. Passados quase dois anos do acidente que marcou o meu ano de 2014, aparece uma carta, ternurenta, é certo, contudo, desperta pequenos monstros a quererem controlar-me. Monstros devoradores! Invasores. Querem ocupar a minha mente com amargos devaneios, acerca da existência da vida, da morte e das escolhas de Deus. Que fim encontro nisto? Não há respostas certas. Agora, nem as pretendo. Um dia as terei.
- Não posso! Não consigo! Não quero!
Não preciso de viver tudo novamente. É como voltar aos velhos amores, só trazem dissabores. Vivências passadas, choros cruéis, questões não respondidas. Não traz nada de novo... Será que foi o destino? Não quero pensar nisso. Voltar a interrogar-se da existência ou não dele, é causa perdida para mim.
- Por que voltaste a atacar? Por que fizeste questão em relembrar-me das minhas fragilidades? Não tens piedade... Nem sequer percebes cada picada de dor que impregnas na minha consciência.
- Que fiz? Que mereci? Que justiça é esta? É válido?
Por mais que nos esforcemos em ganhar a guerra, há sempre batalhas inacabadas. Podemos inocentemente marcar vitória, no entanto, não nos livramos dos vestígios que regressam ao campo de batalha. Impacientes por mais. Alvoraçados por conquista! É inevitável. Mas, estou protegida. Agora. Toma este alerta, para o caso de voltares a aparecer: é como nos levantamos do obscuro, que dita a gestão inteligente das batalhas que nos são colocadas. Quando pensares em ameaçar-me, enfrenta-me convictamente. Sou mais poderosa que tu!
Fecho os olhos. Concentro-me no passado. Revivo cada memória. Cada ferida. Cada grito. Recordo o choque. Ouço as vozes. Caramba! Depois de arquivar cada lembrança ruim, como surgem estes atrevidos, inocentemente, a atravessarem o meu caminho?
É justo. Agora que me ergui das cinzas, agora que estou mais forte que nunca, vêm espicaçar a minha coragem. A minha força. A minha ambição. Desculpem, não conseguem. Escusam de tentar. Podem deitar todos os feitiços que pretenderem, mas não conseguem! Não conseguem! Agarro cada derrota em punho cerrado. Tenho mais força que qualquer pensamento de consciência. Não há muros nem montanhas que consigam derrubar-me. Os nervos do meu corpo estão elétricos, vibrantes, ansiosos por conquistar o mundo! E eu, bem, eu estou aqui, olhando-vos olhos nos olhos, enfretando qualquer debilidade. Não me vencem! Não conquistam a minha vida. A minha! Sou eu que tenho de a viver, não a podem dominar! Não invadam o meu espaço. O meu! Por isso, apareçam, mas só para me verem triunfar.
E tu? É tempo de te içares das profundezas, retirares a âncora que te prende à negatividade e enfrentares os mares, por mais tenebrosos que te pareçam. Eu fiz. E consegui. E tu? Quando fazes algo por ti?

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