Carta à minha mãe I
Aquele aperto insano. Desmedido. Medroso. Incalculável. Ao mesmo tempo, louco de amor. Mãe, minha mãe, quão pavoroso é este medo que me assiste? Medo de ires e me deixares sem um beijo ou um sorriso. Pior, sem a tua proteção. O teu conforto. O pueril rasgar de lábios, que só tu me sabes colocar. Que viver é este, inconsequente, de me deixares sem aquela palavra tua, e minha, e nossa? Viver com duplas preocupações, com duplos medos. Medos, aqueles demoníacos que tinha ao adormecer na mais profunda escuridão. Medos que tu cobrias com um requentar de palavras doces, "estou aqui". E estás mesmo aqui, a aquecer-me a alma, o coração, o corpo, a vida. É natural eu ter estes medos? Diz-me que sim. Mas, fá-los desaparecer com a magia dos teus olhos ternurentos.
Quero calma na alma. Quero viver a vida. Quero-te a ti. Infinita e poderosa no percurso da minha existência. Nas minhas quedas. Nas minhas vitórias. Mas a ti, inseparavelmente. Somos espíritos destinados? Diz-me que sim. Eu estou aqui e tu, onde estás?
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